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Vênus, a estrela d’Alva

Vênus, em 26-jan-2014.

Vênus, em 26-jan-2014, 15 dias após a conjunção inferior.

Vênus, em 26-jan-2014, através de um binóculo 12x50 + tele 300mm.

Vênus, em 26-jan-2014, através de um binóculo 12×50 + tele 300mm.

Enquanto a Terra gira…


Pode parecer chuva, mas os traços brilhantes que vemos nessa imagem são de estrelas!

É claro, o movimento rápido vem da sobreposição de 3 fotos e os riscos com caudas não são apenas de uma simples foto. Embora exista alguma produção nisso, a essência do efeito reside no movimento aparente das estrelas.

Todos sabemos que a Terra gira, mas qual é o resultado disso sobre as estrelas do firmamento? A resposta rápida é: elas giram! Já de que forma o fazem, bem, isso poderá surpreender alguns.

Imagine que você esteja sentando sobre a borda de um gigantesco disco girando e que os objetos observáveis estão suficientemente longe de você. Tudo parecerá girar sobre você exatamente no sentido contrário ao do seu próprio giro. Mas se olhar para o ponto mais alto sobre sua cabeça, ele lhe parecerá fixo! O mesmo ocorre para o ponto diametralmente oposto, embaixo de você. Estes são os polos, determinados pelo eixo de rotação do disco em que está.

Notará também que os objetos perto de um polo parecerão descrever círculos cujo centro é esse polo. E quanto mais afastado do polo, maior será esse círculo. Já os objetos que estão na linha do seu horizonte (90º dos polos) parecerão girar em torno de você, afinal, em um espaço tridimensional o seu giro o coloca sob uma perspectiva de um mundo esférico ao seu redor. Transcendendo um pouco a noção de que círculos e seus centros estão em planos, os objetos do “mundo esférico” que você observa em seu gigantesco disco girante parecem todos girar em torno dos polos!

É claro que a percepção de que o polo é o centro será mais forte para os objetos perto dele, ou seja, para os objetos do mesmo hemisfério desse polo. Partindo de um polo ao outro, o círculo aumenta até um máximo para objetos na divisão dos hemisférios (linha do horizonte, 90º dos polos) para então voltar a diminuir até chegar ao outro polo.

Esta é uma analogia do que acontece com você ao olhar para as estrelas. A principal diferença é que a Terra não é um gigantesco disco plano girando, mas praticamente uma gigantesca esfera girando. Alguém sentado na borda de um gigantesco disco plano girando terá a mesma visão de alguém deitado na direção norte/sul e na latitude de 0°, ou seja, em algum lugar na linha do equador da Terra. Mudar a latitude do observador equivale a reclinar o observador sentado no disco. Um observador deitado em um polo da Terra (90º latitude norte ou sul) tem a mesma visão de um observador deitado no disco: eles estão olhando diretamente para o centro de rotação – o polo celeste – e todos os objetos descrevem trajetórias aparentes que são círculos concêntricos cujo centro é o polo.

Como uma imagem costuma valer mais que mil palavras, veja isso (clique em “Play” para ver a animação):

Trajetória aparente das estrelas próximas ao polo sul celeste. Alpha e Beta Centauri, Cruzeiro-do-Sul, Canopus e outras estão visíveis.

Esse é o rastro deixado pelas estrelas próximas ao polo sul celeste em um intervalo de aproximadamente 1h30min. As estrelas giram no sentido horário, contrário ao da Terra. O arco mais próximo do polo sul celeste, portanto o menor que aparece nessa foto, é da estrela Sigma Octans, considerada a “estrela polar” do hemisfério sul (na foto, posição de ~7h em relação ao polo). Sigma Octans é uma estrela fraca e não está tão próxima do polo, logo, ela não é uma referência como é a estrela polar do hemisfério norte, chamada Polaris.

Uma coisa é saber. Outra é ver. A percepção do giro estelar aparente é esvaziada pela lentidão do movimento de rotação da Terra – 1 volta em 24 horas. Mas técnicas fotográficas como time-lapse e trailing star permitem uma experiência bastante real da rotação e, em geral, são imagens com grande apelo visual.

Será então que um vídeo vale por mil fotos?

Esse aí deve valer. Foram utilizadas aproximadamente mil fotos para sua elaboração, feitas em duas noites. Além das estrelas, as fotos captaram a Lua, Júpiter, Vênus, satélites, flares (Iridium?), aviões, navios, barcos e alguns “objetos” que ficaram sem identificação.

Abaixo, algumas dessas imagens:

Lua, Parte brilhante da Via-Lactea (direita),  Scorpius (a grande constelação do Escorpião  dominando a imagem com Alpha Sco, a gigante vermelha Antares no centro da imagem)

Lua, Parte brilhante da Via-Lactea (direita), Scorpius (a grande constelação do Escorpião dominando a imagem com Alpha Sco, a gigante vermelha Antares no centro da imagem)

Orion e M42 nebula (em cima da torre), Jupiter (o mais brilhante, centro-direita).

Orion e M42 nebula (em cima da torre), Jupiter (o mais brilhante, centro-direita).

Pleiades, Taurus, Perseus

Pleiades, Taurus, Perseus

Centaurus (Alpha e Beta), Crux (Cruzeiro-do-Sul), Saco de Carvão (a região mais escura da foto, do lado esquerdo do Cruzeiro e quase do tamanho deste),  Carinae nebula (a região mais brilhante da foto)

Centaurus (Alpha e Beta), Crux (Cruzeiro-do-Sul), Saco de Carvão (a região mais escura da foto, do lado esquerdo do Cruzeiro e quase do tamanho deste), Carinae nebula (a região mais brilhante da foto)

"Stars-Trail", Gemini (Gêmeos), Jupiter (o traço mais brilhante), Capella (Alpha Auriga, traço brilhante mais a esquerda)

“Stars-trail”, Gemini (Gêmeos), Jupiter (o traço mais brilhante), Capella (Alpha Auriga, traço brilhante mais a esquerda)

"Stars-trail", Orion (em cima da torre), Jupiter (traço mais brilhante da foto, centro-direita)

“Stars-trail”, Orion (em cima da torre), Jupiter (traço mais brilhante da foto, centro-direita)

"Stars-Trail", Sirius (traço brilhante, no alto centro-esquerda), Jupiter (traço mais brilhante da foto, centro-direita, tocando a árvore)

“Stars-Trail”, Sirius (traço brilhante, no alto centro-esquerda), Jupiter (traço mais brilhante da foto, centro-direita, tocando a árvore)

"Stars-Trail", Pleiades, Satélite (tracejado, diagonal superior-direita/inferior-esquerda, polo norte celeste está 20º "embaixo da terra")

“Stars-Trail”, Pleiades, Satélite (tracejado, diagonal superior-direita/inferior-esquerda, polo norte celeste está 20º “embaixo da terra”)

"Stars-Trail", Lua (superior-esquerda), satélite (tracejado, diagonal direita), "flare" (Iridium?, centro-superior), navios (horizonte)

“Stars-Trail”, Lua (superior-esquerda), satélite (tracejado, diagonal direita), “flare” (Iridium?, centro-superior), navios (horizonte)

"Stars-Trail", Polo sul celeste, avião (tracejado, direita)

“Stars-Trail”, Polo sul celeste, avião (tracejado, direita)

Estrela D'Alva (Vênus em crescente, note o intenso brilho clareando a borda da nuvem), Alvorada

Estrela D’Alva (Vênus em crescente, note o intenso brilho clareando a borda da nuvem), Alvorada

Continuidade

Lua e Vênus

Um belo par no céu do dia 8 de setembro.

Por essas bandas, a Lua quase encobriu Vênus pouco antes das 20 horas. Foi uma conjunção muito próxima, mas em outras partes do globo houve, de fato, uma ocultação. As fotos registram a conjunção aproximadamente uma hora antes da máxima aproximação, quando Vênus ainda estava pouco mais de meio grau acima da Lua. Por volta de 19:40 h., Vênus passou a menos de 0,1 º da borda direita da Lua.

Vênus percorre atualmente o céu pós-ocaso. É quando é conhecido como estrela Vésper. Quando surge no céu da madrugada ele muda de nome e passa a chamar-se estrela d’Alva. A estrela Vésper se transformará em estrela d’Alva entre a última semana desse ano e a terceira semana de janeiro de 2014.

Enquanto isso, Vênus, que já está visível durante o dia (isso mesmo, de dia!), aumentará ainda mais seu brilho até dezembro desse ano.

Alvorada

Reverências ao novo dia…

Lua e Vênus